Profissional a serviço da segurança do trânsito ou um vilão que trabalha para a arrecadação da indústria da multa? conheça um pouco da rotina de quem faz a manutenção dos radares.
Hudson Leandro, trabalha há 18 anos com instalação e manutenção de equipamentos de fiscalização, o técnico em eletrônica, já ouviu todo tipo de insulto nas ruas, mas garante que o reconhecimento também é grande, e dá a fórmula para não ser flagrado pelos aparelhos que instala.
Para não levar multa, basta respeitar as leis de trânsito, certo? Essa lógica não é tão simples para um bom número de pessoas. Segundo a pesquisa DataFolha feita na cidade de São Paulo em 2016, 47% dos entrevistados responsabilizam os próprios motoristas pelas autuações, mas para 23% a culpa é dos equipamentos de fiscalização – os populares radares. E quem pode acabar sentindo na pele essa rejeição são os profissionas que cuidam da instalação e da manutenção dos aparelho. Que o diga o paulistano Hudson.
“Quando alguém que conheço fica sabendo no que eu trabalho, sempre tem curiosidade. A dúvida mais comum é sobre como os equipamentos funcionam. E tem aquelas perguntas que podem parecer inocentes, mas que a gente sabe que, no fundo, são para tentar tentar descobrir como burlar a fiscalização. Querem saber o local que o radar captura infração, a partir de quantos metros ele mede a velocidade. Por isso, não podemos falar nada sobre a parte ténica. Fora isso, sempre rola uma piadinha sobre a famosa ‘indútria da multa'”, conta.
Desse reconhecimento pelo seu trabalho surgiram amizades e casos inusitados. “Você acaba criando amizades, e ocorrem casos curiosos, como o de um senhor em Santa Catarina que sempre vinha falar comigo quando eu fazia a manutenção perto da sua casa. Depois de um tempo, ele pediu meu telefone e, como eu já o conhecia, passei o número. A partir de então, esse senhor sempre ligava e enviava mensagens relatando o que acontecia com o equipamento, como se ele fosse um fiscal. Outro caso foi o de uma senhora de Maceió [AL] que cuidava do equipamento como se fosse dela e, a qualquer sinal de problema ou vandalismo, me avisava”, lembra.
Convicto da importância e da seriedade do seu trabalho, Hudson faz um alerta para quem insiste em falar na tal indústria da multa: “A gente não fabrica multa, só registra o que os motoristas fazem, e a grande maioria dos veículos que passam pelos equipamentos de fiscalização não é autuada”, garante o profissional, respaldado por dados levantados por diferentes entidades. Enquanto a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) informa que, dos 40 milhões de condutores no Brasil, cerca de 80 mil são multados, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) revela que apenas 2% dos motoristas que passam pelos radares cometem infração. “Como fazer para não tomar multa? É só andar na velocidade permitida e respeitar as outras leis de trânsito”, resume Hudson.
DIFERENTES TIPOS DE RADAR
As funções dos aparelhos de fiscalização vão além de medir a velocidade. Por isso mesmo, não se deve chamá-los indiscriminadamente de radares, como são popularmente conhecidos. O termo correto, e que abrange todas as suas aplicações e modelos, é “aparelho de fiscalização eletrônica”, conforme explica o gerente de desenvolvimento da Perkons, Adriel Silva: “Os equipamentos, hoje, fiscalizam avanço em semáforo, parada sobre faixa de pedestres e cumprimento de rodízio, além da velocidade, e são diferenciados de acordo com a tecnologia usada, formatos e mobilidade”, esclarece.
Quanto à tecnologia, a fiscalização é feita através de laços indutivos instalados no pavimento (método exclusivo para equipamentos fixos, como a lombada eletrônica) ou por sensores não intrusivos. “Os sensores não intrusivos podem fazer a fiscalização por meio de emissão de laser, como nos aparelhos usados nas Marginais para aferir velocidade, verificar o uso de faixas exclusivas e fiscalizar o cumprimento do rodízio, ou pela emissão de ondas eletromagnéticas (efeito Doppler). Nesse segundo método, o sinal de micro-ondas é emitido por uma antena acoplada ao equipamento e refletido pelos veículos que trafegam na via. Por serem tecnologias não intrusivas e, consequentemente, sem a necessidade de obras, podem ser usadas em aparelhos estáticos e portáteis”, explica Adriel.
Além das lombadas eletrônicas, são classificados como equipamentos fixos os chamados “pardais”, acoplados a postes e com sensores não intrusivos, e as câmeras instaladas nos semáforos que também fiscalizam avanços no sinal vermelho e paradas sobre a faixa de pedestres. Há também o radar estático, que é montado sobre um tripé ou em veículos estacionados, pontes e passarelas.
A operação é automática, pois os dados estatísticos e da imagem são registrados sem a interferência de um operador. Outro modelo usado no Brasil é o portátil, aquele aparelho parecido com uma pistola que é manuseado por uma pessoa. Há ainda os radares móveis, que ficam dentro do veículo do órgão fiscalizador em movimento e têm uso bastante restrito no país.
Fonte: Auto Esporte.