A greve dos caminhoneiros provocou uma corrida aos postos de combustível de todo o país, e em muitos lugares já falta gasolina para abastecer os carros. Nessa situação quase caótica, quem tem um modelo a gasolina pode pensar em algo tentador: colocar etanol no tanque.
O uso do biocombustível em um motor projetado para queimar somente gasolina é possível, mas provocará danos no conjunto. Nem pense, porém, em colocar diesel em um motor flex ou a gasolina/etanol: é sinônimo de estrago na hora.
O primeiro impacto ocorre na partida a frio. O etanol tem menor poder calorífico e é mais difícil de ser pulverizado em baixas temperaturas. Por isso modelos flex ou movidos apenas a álcool devem ter um sistema específico para ajudar a ligar o motor nessas situações.
Como um carro a gasolina não tem esse dispositivo, ligá-lo no frio quando houver etanol no tanque será bem mais difícil. Isso sobrecarregará o motor de arranque, especialmente em modelos com partida por botão.
Essa risco existe porque muitos veículos com esse equipamento podem manter o motor de partida ligado ininterruptamente até o carro ligar efetivamente.
Uma vez ligado, o carro vai demorar mais pra esquentar e terá desempenho irregular.
O problema ocorre, sobretudo, por conta da diferença estequiométrica (razão entre ar e combustível) entre eles e pela taxa de compressão menor de motores a gasolina.
As injeções eletrônicas modernas ajudam a diminuir esse problema, mas os mapas da ECU do motor são limitados, pois a maioria deles foi programado pensando apenas para o uso da gasolina.
Quando isso ocorrer, é possível que a luz-espia da injeção se acenda e o carro tenha desempenho limitado.
E nem adianta esperar o ganho de potência que ocorre na maioria dos carros flex quando queimam etanol – na prática, é mais provável que o motor fique mais fraco até do que fosse abastecido com gasolina.
O maior problema será a longo prazo. O etanol combustível encontrado nos postos tem até 5% de água em sua composição.
Essa água (inexistente na gasolina, que usa álcool anidro na mistura) irá provocar corrosão e danos em todas as partes do carro que entram em contato com o combustível.
A conta do prejuízo inclui bomba de gasolina, bicos injetores, velas e até junta de cabeçote e anéis do pistão. O catalisador e outras partes do escapamento também podem ser danificados.
E melhor nem entrarmos na seara dos carros carburados. Como eles não conseguem se adaptar automaticamente ao combustível, podem sequer ligar no dia seguinte.
Resumo da ópera: se for essencial reabastecer seu carro a gasolina, é possível colocar etanol no tanque. Prefira, no entanto, fazer isso quando ainda houver gasolina no tanque.
Também é bom evitar ligar o carro quando as temperaturas estiverem muito baixas e voltar a colocar gasolina tão logo seja possível.
Fonte: quatro rodas